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A Hidrodinâmica Oculta da IA: Quanta Água Potável é Consumida por um Data Center em um Único Dia de Treinamento e Operação?

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    Elétrica Sustentável Automatizada
  • 4 de nov.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 12 de nov.

A Inteligência Artificial (IA) é frequentemente celebrada como uma tecnologia "limpa" – um produto de software, etéreo, que reside nas nuvens. Contudo, essa percepção ignora a densa infraestrutura física necessária para alimentar desde um simples chatbot até o treinamento de modelos de linguagem de grande escala (LLMs) como o GPT-4.


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O Paradoxo da IA e a Água


O verdadeiro custo da IA não está apenas em kWh de energia; ele reside, de forma crítica, na água. Estamos falando de um recurso escasso usado em duas frentes: no resfriamento direto dos data centers e, de forma ainda mais significativa, na água virtual embutida na geração de toda a energia elétrica que esses centros consomem.


Neste post, vamos desvendar os ciclos hídricos por trás da IA, apresentando métricas de engenharia e a urgência de uma abordagem mais sustentável no setor de tecnologia.


O Consumo Hídrico Direto: O Coração do Data Center


O data center (DC) é o lar físico da IA, e seu maior desafio de engenharia é gerenciar o calor. Cada rack de servidores pode dissipar o calor equivalente a vários aquecedores residenciais, exigindo um sistema de resfriamento robusto, onde a água é o agente térmico preferencial.


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Anatomia Hídrica de um Data Center


Nos DCs modernos, o método de resfriamento mais comum é a refrigeração por evaporação, que utiliza as famosas Torres de Resfriamento.


O Processo da Torre de Resfriamento:


  1. A água quente (aquecida pelos servidores) é bombeada para a torre.


  2. Lá, uma pequena porção da água evapora na atmosfera.


  3. A evaporação é um processo altamente eficiente de resfriamento, pois a mudança de estado (líquido para gás) remove uma grande quantidade de calor latente do sistema.


  4. O problema: A água que evapora precisa ser reposta (água de reposição ou makeup water). Além disso, outra porção é descartada (água de purga ou blowdown) para evitar o acúmulo de sólidos dissolvidos (minerais) que causam corrosão e incrustações.


A Métrica de Engenharia: WUE


Para quantificar a eficiência hídrica, os engenheiros utilizam a métrica Water Usage Effectiveness (WUE).


WUE = Volume Anual de Água Total Usada no DC (Litros)

Energia Anual de TI (kWh)


O WUE é medido em Litros por Quilowatt-hora (L/kWh) ou Galões por Quilowatt-hora (gal/kWh).

Um DC em clima quente, que depende intensamente de resfriamento evaporativo, pode ter um WUE muito mais alto (pior) do que um DC em clima frio que utiliza o Resfriamento a Ar Livre (Free Cooling) durante a maior parte do ano.


Detalhe Técnico: A água de reposição, na maioria dos casos, deve ser de alta qualidade (potável ou tratada) para evitar danos aos sistemas de resfriamento caros e garantir a máxima eficiência na transferência de calor.

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O Consumo Hídrico Indireto: A Água Virtual da Energia


O consumo direto é apenas a ponta do iceberg. A maior pegada hídrica da IA está na água virtual embutida na geração de energia elétrica consumida pelo data center.


A Intensidade Hídrica da Eletricidade


A forma como a energia é gerada dita o seu custo hídrico:


  • Termelétricas (Fósseis/Gás): Usam grandes volumes de água para o resfriamento do condensador durante o ciclo de vapor. A intensidade hídrica pode variar amplamente, mas é frequentemente alta.


  • Nucleares: Requerem um uso intensivo e constante de água para resfriar o reator e o condensador.


  • Hidrelétricas: Embora a água não seja consumida no sentido tradicional, a evaporação da água dos grandes reservatórios é alocada ao consumo de energia, podendo representar perdas significativas em regiões secas.


  • Renováveis (Eólica/Solar Fotovoltaica): Têm a menor intensidade hídrica, consumindo água principalmente para a limpeza dos painéis e na fabricação.


Um DC que opera com energia de uma usina termelétrica emite uma pegada hídrica indireta muito maior do que um DC alimentado por energia eólica na mesma proporção.


O Ciclo Completo: Da Resposta da IA à Fonte de Água


Para entender o consumo em escala humana, precisamos aplicar essas métricas ao uso diário de um Large Language Model (LLM).


A Água Consumida por uma Resposta (Query)


Pesquisadores têm tentado quantificar o consumo hídrico por interação com chatbots. Embora o dado exato varie muito (dependendo da localização e eficiência do DC), estudos indicam um consumo surpreendente:


O Fator Chocante: Estima-se que uma conversa de 20 a 50 perguntas e respostas em um chatbot avançado pode consumir o equivalente a cerca de 0,5 Litro de água potável.

O Raciocínio de Engenharia:


Essa estimativa deriva da soma dos consumos hídricos diretos e indiretos:


Água por Query Energia por Query x (WUE Direto + WUE Indireto)

Número de Querys/Dia


O treinamento de modelos é ainda mais impactante. Relatórios sugerem que o treinamento de um modelo grande, como o GPT-3, em um DC evaporativo, pode ter exigido centenas de milhares de litros de água. Essa água é consumida em um único dia, não para o uso final, mas para o treinamento que capacita o modelo a funcionar.


O Fator Localização: Um Desafio para Engenheiros


A engenharia de data centers está sendo forçada a considerar a escassez hídrica. A decisão de construir um DC em um local com clima seco e quente (dependente de resfriamento evaporativo) ou em uma região fria e úmida (favorável ao free cooling) é agora um imperativo ético e de sustentabilidade.


A inovação está na busca por alternativas como:


  • Reuso de Água: Utilizar água cinza ou efluentes tratados.


  • Resfriamento por Imersão Líquida: Onde os componentes são mergulhados em fluidos dielétricos que não conduzem eletricidade. Este método é significativamente mais eficiente em termos de água e energia, pois elimina a necessidade de grandes sistemas de resfriamento evaporativo a ar.


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Engenharia e Sustentabilidade Hídrica


A IA não é uma tecnologia livre de custos ambientais. O consumo hídrico de um data center em um único dia, seja no resfriamento direto ou na água virtual da energia, é massivo e insustentável a longo prazo em regiões com estresse hídrico.


O desafio recai sobre a Engenharia: desenvolver sistemas de resfriamento de ciclo fechado e pressionar por uma matriz energética dos data centers 100% baseada em fontes renováveis de baixa intensidade hídrica.


Ao olharmos para a tela e interagirmos com uma IA, devemos estar conscientes do copo de água que, invisivelmente, estamos consumindo.


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Redação de Artigos

O conteúdo descrito neste site e páginas de redes sociais relacionadas a ele foram redigidos por Sabrina Levi Dmitriev.
 

Uma engenheira de minas e engenheira elétrica brasileira, apaixonada por desvendar os segredos da terra e da energia. Com um olhar curioso e uma mente analítica, explora as profundezas das minas e os labirintos dos sistemas elétricos, buscando soluções inovadoras e sustentáveis para o mundo.
 

Formação:

  • Engenharia de Minas [UNICAMP]

  • Engenharia Elétrica [PUC-SP]

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